quinta-feira, 21 de junho de 2012

Mesmos caminhos de uma trajetória

por Ana Carolina de Almeida


Sexta-feira à noite e o final de semana começa no Cenas Curtas. Teatro lotado e alguns com pipoca e bebida na mão aguardam para a terceira cena da noite. Nada no palco, voz e telão ao lado da arquibancada marcam o início da cena Trajetória PL. No telão, dados claros de um passado escuro do personagem que iria entrar em cena. PL,16 anos, travesti: assim se resume o protagonista da história. Criado pela tia e sem saber da sua verdadeira idade, sua vida era norteada a partir do momento em que se descobriu gay, ou melhor, nas palavras dele: quando resolveu virar gay. E dão-se as luzes no teatro.

No inicio da cena o protagonista quer convencer o diretor do espetáculo que só ele pode representar bem o papel do travesti da peça, já que tudo ali é sobre a vida dele mesmo. Brincando com a ideia de que a peça de verdade ainda não tinha começado. E não foi difícil convencer o público do merecimento do papel. Sem usar trejeitos típicos e comuns de representações de personagens gays ou travestis, o ator sabe usar as características que representam essas pessoas, mas sem se tornar ofensivo e de mau gosto e não abrindo mão do bom humor.

Com uma desinibição natural, PL, conta as suas experiências de vida como se estivesse respondendo a um questionário, descrevendo o ambiente físico e social em que vive. Era como se estivéssemos assistindo um documentário, nada cansativo, bem humorado e cheio de críticas a vivências reais de muitas pessoas do país. Em um momento, o riso deu lugar ao silêncio, pareceu que todos pararam para pensar: É, isso acontece de verdade. O choro do ator, quase se juntou ao meu, mas segundos depois, o ambiente se tornou leve. PL, sempre descontraído, retomou o humor da cena.

Mesmo com uma grande bagagem de histórias vividas em tão pouco tempo de viagem, PL, não tinha certeza dos próximos destinos em que iria seguir, se queria voltar ou dar um rumo diferente para a sua vida. Com um trabalho bem feito, onde a seriedade e tristeza do discurso se misturam ao bom humor da interpretação, em uma trajetória ainda sem fim, mas que já estava no caminho de ser descoberta.

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